"Lendas com a letra A"

Acutipupu

Acutipupu é uma criatura singular. De acordo com a tradição, o Acutipupu é simultaneamente homem e mulher, habitando a Serra do Japó. Quando assume a forma feminina, o Acutipupu dá à luz filhas de uma beleza deslumbrante, comparável às estrelas. Por outro lado, quando se encontra com um corpo masculino, ele fecunda as mulheres, resultando em filhos fortes e corajosos, radiantes como o sol. Sob a forma de mulher, o Acutipupu teve uma filha com Uaiú, um índio que impunha a lei de Jurupari na região. A menina, chamada Erem, destacava-se por sua grande beleza. No entanto, quando Uaiú desejou fazer amor com sua própria filha, Erem recusou-se e fugiu para escapar do pai. Ela encontrou refúgio em uma tribo liderada por Cancelri, e os dois acabaram se casando. Infelizmente, Uaiú não desistiu de seu objetivo e declarou guerra a Cancelri, resultando na morte de todos os membros dessa aldeia e na perda da filha querida do Acutipupu. Curiosamente, a lenda do Acutipupu não é amplamente conhecida, e não existe uma Serra do Japó. Acredita-se que a palavra “Acutipupu” seja uma corrupção do termo Japi, referindo-se à serra localizada no estado de São Paulo. Essa história fascinante nos lembra da riqueza e diversidade do folclore brasileiro, repleto de criaturas míticas e narrativas intrigantes.



Ahó Ahó

Ahó Ahó é uma criatura monstruosa que devora pessoas. Um ser que vive no Sul do Brasil. fundida pelos padres jesuítas durante o período das Missões entre os índios guaranis. Diz-se que o Ahó Ahó se assemelha a uma ovelha, mas com grandes chifres. Ele espreita os homens para devorá-los. Alguns habitantes da região dizem que ele parece um grande cachorro peludo que solta fumaça pela boca. Os Ahó Ahó costumam andar em bando e se comunicam entre si com o som “ahó ahó”. Eles caçavam os desavisados que vagavam longe das reduções mantidas pela Companhia de Jesus. A única solução para escapar do Ahó Ahó é subir numa palmeira, considerada sagrada por fornecer as palmas que aclamaram Jesus no Domingo antes da Páscoa. Se a vítima subir em uma árvore de espécie diferente, o Ahó Ahó cava as raízes até derrubar a árvore e devorar sua presa. Curiosamente, essa lenda se estende por todo o território pertencente aos guaranis, que inclui Paraguai, Bolívia, Argentina e Brasil.



Alamoa

A Alamoa é uma linda mulher branca, com cabelos loiros e estatura alta. Ela reside no Pico, localizado no morro de mesmo nome. Nas noites escuras, a Alamoa sai completamente nua para seduzir os homens que cruzam seu caminho. Os passantes não conseguem resistir aos seus encantamentos e a seguem enfeitiçados até sua morada. O Enigma do Pico: Quando os homens vencem os 323 metros de altura do Pico, a Alamoa se transforma em uma caveira. Ela aprisiona o infeliz que a acompanhou, e as joga do penhasco. A magia da Alamoa só pode ser quebrada pela luz dos raios, pois ela os teme e precisa fugir de volta para sua escura caverna. Sextas-Feiras e Tesouros: Alguns dizem que a Alamoa só deixa sua casa às sextas-feiras. Sob o pretexto de precisar de ajuda para encontrar um tesouro, ela convida os homens para entrar. Uma vez dentro, ocorre uma transmutação, e o imprudente nunca mais é visto. Significado da Palavra “Alamoa”: A palavra “Alamoa” é uma corruptela do feminino da palavra “alemão”. Para os habitantes do Nordeste brasileiro, uma mulher com essas características físicas só poderia ser alemã.



Alma de Gato

Alma-de-gato é uma misteriosa ave desperta curiosidade e medo em igual medida. A alma-de-gato é uma ave vistosa, com plumagem exuberante, olhos avermelhados e tamanho avantajado. Ela mede praticamente meio metro, sendo sua cauda comprida responsável por dois terços desse tamanho. Carnívora por natureza, a alma-de-gato se alimenta de gafanhotos, lagartas (incluindo as taturanas), aranhas, lagartixas e até mesmo camundongos. Sua presença é essencial para o equilíbrio do ecossistema, ajudando a controlar populações excessivas de pragas como lagartas e gafanhotos, evitando danos às árvores nativas e culturas agrícolas Na Amazônia, a alma-de-gato é conhecida como chincoã ou tincoã, que significam “pássaro-feiticeiro”. Seu canto é fatídico: basta escutá-lo para que os dias da pessoa estejam contados. Além disso, ela é chamada de alma-perdida, alma-de-caboclo e uirapagé. Parentesco e Mistério: Pertencente à família dos cucos (Cuculidae), a alma-de-gato é parente do anu-branco, anu-preto, diversos papa-lagartas e até mesmo do lendário saci. O desconhecimento sobre essa ave contribui para sua aura de mistério e fascínio.



Almas dos Escravos

Almas dos Escravos ou Cerro das Almas Cerro das Almas, situado no município gaúcho de Capão do Leão, é envolta em mistério e histórias intrigantes. A origem do Nome "Cerro das Almas" possui diversas versões sobre a origem de seu nome. Uma delas sugere que lá existe um cemitério de escravos que foram mortos por castigos de seus senhores durante tentativas de fuga. Outras variações afirmam que o local era um cemitério indígena e não de escravos. Além disso, há relatos de que os túneis do cerro foram usados pelas tropas portuguesas na época em que expulsaram os espanhóis da região. Exploração e Mistério: Aventureiros que adentraram as cavernas do Cerro das Almas relatam experiências intrigantes. Diz-se que é impossível adentrar profundamente nas entranhas do cerro, pois nem fogo nem lanterna permanecem acesos. A falta de oxigênio ou algum tipo de magnetismo parece impedir a exploração completa. Riquezas e Histórias: Moedas do Império já foram encontradas na região. Conta-se que muito ouro português está escondido dentro das cavernas. Uma rocha em formato de dedão (ponto turístico) servia como referência para localizar o esconderijo de riquezas e armas. Assim, o nome “Cerro das Armas” pode ter sido reconfigurado por erro de pronúncia para “Cerro das Almas”.



Amazonas

As Amazonas são filhas do deus da guerra. Herdaram sua audácia e coragem. Características das Amazonas: As Amazonas removiam um dos seios para melhor manusear o arco, deixando o outro para amamentar seus filhos. Se nascessem meninos, eram impiedosamente sacrificados. Encontro com os Espanhóis: Em 1540, o aventureiro hispânico Francisco Orellana explorou a América do Sul. Ele avistou mulheres semelhantes às Amazonas, conhecidas pelos indígenas como Icamiabas (significando “mulheres sem marido”). Essas guerreiras atacaram a esquadra hispânica, derrotando os europeus com arcos e flechas. Território e Sociedade das Icamiabas: As Icamiabas viviam em aldeias edificadas com pedras, conectadas por caminhos que elas cercavam. Cobravam pedágio dos que atravessavam essas estradas. Lideradas por uma cunhã virgem, reproduziam-se capturando indigenas de aldeias subjugadas. Confusão de Nomes: Os espanhóis, ao se depararem com essas guerreiras, confundiram-nas com as lendárias Amazonas gregas. Batizaram o rio onde as encontraram de Rio de Las Amazonas, perpetuando o nome na floresta e no maior estado brasileiro. Assim, dessa pequena confusão nasceram os nomes do Rio Amazonas, da Floresta Amazônica e do Estado do Amazonas, todos associados a essa miragem hispânica. A história das Amazonas ocorreu em terras brasileiras, mas são mais disseminadas em outros países, por causa da associação com ouro e prata, que despertava a cobiça dos europeus



Amorosa

Difundida na região da Bacia Hidrográfica do Rio Macabu, especialmente no município de Conceição de Macabu, no interior do estado do Rio de Janeiro, Ipojucam e Jandira eram indígenas sacurus que viviam em diferentes aldeias. Ipojucam, um caçador habilidoso, habitava a parte alta da região, onde os rios Carukango e Vermelho se encontravam. Jandira, conhecida por suas redes e cestas de palha feitas com folhas secas de macaúba, vivia na parte baixa, onde um grande bambuzal ainda existe. Encontro e Amor: Desde jovens, Ipojucam e Jandira se conheciam, brincando entre as pedras do rio e se banhando na cachoeira. Ela fazia belos cestos de caça para ele, e ele trazia os mais diversos animais como presente. O Encontro com o Curupira: Um dia, Ipojucam encontrou um estranho rastro e seguiu-o até um imenso tronco oco. Lá dentro, dormia um ser peculiar, parecido com um pequeno indiígena, mas cabeludo e com os pés voltados para trás. Esse ser era o Curupira, defensor da mata e dos animais. Ipojucam o acordou e conversou com ele. O Desafio e a Cachoeira Amorosa: Anhangá, o maligno deus da morte dos sacurus, desafiou Ipojucam para uma luta de caça. Ipojucam derrotou uma onça branca enviada por Anhangá. No entanto, Anhangá, humilhado, transformou-se em uma tromba d’água e arrastou Jandira e Ipojucam para as profundezas da cachoeira. A cachoeira passou a ser chamada de “Amorosa”. Assim, a Lenda da Amorosa nos envolve com seu romance, desafios e a força da natureza, perpetuando-se como parte do rico folclore fluminense.



Anhangá

O Anhangá é uma figura enigmática reverenciada como protetor das matas, dos rios e dos animais selvagens. Ele é um espírito poderoso, presente na cosmovisão de diversos povos originários do Brasil. Origem e Representação: O Anhangá é frequentemente retratado como um veado enorme, de coloração branca, olhos vermelhos como o fogo e chifres pontudos. Suas habilidades incluem a capacidade de transformar-se em outros animais para proteger o meio ambiente, assumindo formas como tatu, boi ou pirarucu. Como ser humano para afugentar caçadores e madeireiros da floresta. Protetor dos Animais: O Anhangá é conhecido por punir caçadores que maltratam os animais ou exploram a natureza. Relatos descrevem punições como pauladas invisíveis, chifradas e coices. Alguns caçadores também caíam no encanto de ilusões mágicas, perdendo-se na mata e desaparecendo para sempre. Agradando o Anhangá: Para obter sua proteção, é possível oferecer-lhe aguardente ou fumo de rolo. Queimar castanhas de caju ou fazer cruzes com madeiras da floresta também afasta o Anhangá. Tudo depende do comportamento do caçador, pois nada funcionaria se ele desrespeitasse a natureza. Em síntese, o Anhangá é uma entidade misteriosa, ligada à preservação da natureza e à punição daqueles que a desrespeitam.



Arranca Línguas

Associado à região do Araguaia o Arranca-Línguas se assemelha a um gorila, mas não é exatamente um gorila. Ele também parece um homem, mas não é totalmente humano. Habitando as matas da região do Araguaia, o Arranca-Línguas é muito maior do que um ser humano. Sua preferência alimentar é bizarra: ele adora comer línguas – sejam de cabras, cavalos, bois ou até mesmo de pessoas. Durante a noite, o Arranca-Línguas ataca a boiada, retirando apenas as línguas dos animais para seu banquete. Quanto aos humanos, a lenda diz que ele só arranca a língua dos homens que são ladrões de gado. A região do Araguaia ficou despovoada por muito tempo devido ao medo que as pessoas tinham desse monstro, apelidado de “King Kong goiano”. Aqueles que afirmam ter visto o Arranca-Línguas descrevem-no detalhadamente, mesmo que nunca tenham enxergado, pois nasceram cegos. Pelo cheiro que ele exala, conseguem descrever sua altura, peso, cor dos cabelos e olhos, além de sua última refeição.