"Lendas com a letra B"

Barba Ruiva

O Barba Ruiva é associado a região do Araguaia. O Barba Ruiva é um homem encantado que reside na lagoa de Parnaguá, no estado do Piauí. Ele tem a habilidade de se transformar em menino, moço e velho ao longo do dia. Abandonado pela mãe ao nascer, o Barba Ruiva se aproxima das moças na esperança de que uma delas quebre o feitiço que o aprisiona. A história começou com uma senhora viúva que morava com suas três filhas. Uma das filhas, grávida do namorado que havia sumido, decide ter o filho sozinha na mata. Ela coloca o bebê numa bandeja de cobre e o joga no rio. A Iara, guardiã das águas, indignada com o gesto da mãe, provoca uma grande enchente que dá origem à lagoa de Parnaguá. Os habitantes começam a escutar um choro de bebê vindo do fundo da lagoa. As lavadeiras veem um menino pela manhã, um homem adulto de barba ruiva à tarde e, ao entardecer, um velho com barba branca. Esse é o Barba Ruiva, o menino que foi abandonado, mas acolhido pela Iara. Ele tenta desesperadamente se aproximar de uma moça corajosa para libertá-lo do encanto, jogando água benta sobre sua cabeça. A origem da lenda do Barba Ruiva mistura tradições indígenas com histórias trazidas pelos portugueses. Existiu um almirante chamado Barba Ruiva, cujo nome verdadeiro era Khizr Reis, nascido na Grécia em 1470 e falecido no Império Turco em 1456. Ele conquistou e dominou o Mar Mediterrâneo para o Império Turco-Otomano durante o século XVI. A influência dos costumes cristãos também é evidente, já que o encanto só pode ser quebrado com água benta.



Besta-Fera

A Besta-Fera é associada a região do Araguaia. A Besta-Fera é um ser mítico português e brasileiro. Ela é uma criatura de traços indefinidos, comedora de gente, e tem um rugido assustador. No sentido figurado, o termo é usado para se referir a uma pessoa cruel e sem coração. Acredita-se que a Besta-Fera seja o próprio Diabo, que sai do Inferno em noites de lua cheia para colocar o “sinal da besta” nas pessoas. Essas pessoas estão marcadas para ir para o Inferno. A Besta-Fera fazia várias vítimas, principalmente em florestas ou bosques pouco frequentados. Ela tem o corpo de cavalo e o dorso humano. Corre pelas áreas florestadas até encontrar uma flor vermelha, coberta de sangue, na qual desaparece. O som de seus cascos é suficiente para aterrorizar as pessoas. Embora terrível, este homem-cavalo não é tão perigoso para as pessoas. Diz a tradição que quando alguém vê o seu rosto, enlouquece por vários dias, mas se recupera depois.



Bicho da Fortaleza

É associado ao Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais e na Bahia. Esse monstro assume diferentes formas e é conhecido por aterrorizar as crianças da região. Algumas das formas de aparição do Bicho da Fortaleza incluem: Cachorro Preto e Grande: A mais frequente é a de um cachorro preto e grande que aparece ao entardecer ou depois que a noite cai. Esse cachorro também é descrito como um lobisomem ou um animal peludo desconhecido na nossa fauna, chamado de Lanudo. Homem Sedutor ou Misterioso: O Bicho da Fortaleza também pode assumir a forma de um homem sedutor ou um personagem misterioso. Esse homem traja uma capa escura e aparece nas noites sem lua. Comportamento Variado: O comportamento do Bicho da Fortaleza varia: O que usa capa realiza operações mágicas e seduz mocinhas. O homem comum é reconhecido pelo apetite fabuloso e pela menção aos familiares. O animal consome uma quantidade anormal de alimentos, abate bezerros, ataca cachorros e deixa feridos. As mães costumam ameaçar as criancinhas com aparições desse monstro se não dormirem cedo.



Bicho-Papão

O Bicho-Papão está presente nas histórias contadas em quase todos os povos do mundo. No Brasil, ele é conhecido em todas as regiões. O Bicho-Papão está presente no imaginário de todas as crianças brasileiras. Desde pequenos, ouvimos falar desse monstro que aterroriza as crianças malcriadas e mal-educadas. Ele tem uma aparência assustadora e aparece no quarto das crianças desobedientes. Fica embaixo da cama, atrás da porta ou dentro do armário para assustá-las enquanto dormem. Além disso, o Bicho-Papão come as crianças teimosas. Seu nome deriva do verbo “papar”, sinônimo de “comer”. As vezes ele permanece no telhado das casas, observando o comportamento das crianças da residência. O Bicho-Papão é um monstro grande e gordo com olhos vermelhos e tem o poder de mutação e pode se transformar em diversas formas animais. A história do Bicho-Papão é comum na Península Ibérica (Portugal e Espanha).



Bode Preto

O Bode Preto aparece em encruzilhadas durante a meia-noite. Ele oferece felicidade em troca da alma das pessoas. Os interessados devem selar um contrato macabro, assinado com gotas de sangue, para obter seus desejos. No entanto, é preciso ter fortaleza d’alma, pois o Bode Preto pode pregar peças e trazer consequências inesperadas. Variações Regionais: Existem várias versões dessa história em diferentes estados do Brasil. Algumas histórias falam de um bode metamorfoseado, enquanto outras descrevem um homem vestido de ferro.



Boi Vaquim

O Boi Vaquim é um ser mítico com asas e guampas de ouro. Ele é temido porque chispa fogo pelas pontas das guampas e possui olhos de diamante. Laçá-lo requer muita coragem, além de um braço forte e um cavalo bom de pata e de rédeas. Fontes: O historiador Contreira Rodrigues descreveu essa criatura lendária.



Boitatá

O Boitatá é um ser mítico que habita as matas e florestas, especialmente associado à proteção contra incêndios e à preservação da natureza. Origem e Significado: O termo Boitatá provém da língua Tupi-Guarani e significa “cobra de fogo”. O Boitatá é uma grande serpente que emite luz própria e protege os animais e as matas das pessoas que causam danos à natureza, principalmente através de queimadas. Acredita-se que o Boitatá possa se transformar em um tronco em chamas, enganando e queimando os invasores e destruidores das florestas. No Brasil, existem alguns registros de algumas varuações: No norte e nordeste, ele vive nos rios e sai para queimar os invasores das florestas. No sul, a versão prevalecente relaciona-se à história bíblica do Dilúvio, onde as cobras sobreviventes foram castigadas com o fogo. Curiosidades: A lenda do Boitatá é uma forma de conscientizar sobre a importância da preservação ambiental e do combate aos incêndios florestais. Ele representa a força da natureza e a necessidade de respeito ao meio ambiente. O Boitatá tem suas raízes na cultura indígena brasileira e é uma das mais fascinantes do folclore do país. A palavra “Boitatá” vem da língua Tupi-Guarani, onde “boi” significa cobra e “tatá” significa fogo, portanto, "cobra de fogo", Em de 31 de maio de 1560, em um relato escrito pelo padre jesuíta José de Anchieta. Ele descreveu o Boitatá como um “facho cintilante” que matava os indígenas assim como os curupiras faziam. Essa descrição também servia como uma explicação para o fenômeno do fogo-fátuo, uma pequena chama que aparece espontaneamente devido à decomposição de matéria orgânica. Em algumas regiões do Brasil, o Boitatá é retratado como uma grande serpente de fogo que protege as florestas e os animais, principalmente contra aqueles que causam queimadas. Em outras, ele é visto como um touro feroz que s olta fogo pela boca. Um dos "monstros" brasileiros mais antigos de nossa história, o Boitatá continua a assombrar nossa imaginação até os dias de hoje.



Boiuna

Segundo a tradição, a Boiúna é uma enorme cobra que habita as águas profundas dos rios da região amazônica. Ela é descrita como uma serpente de tamanho colossal, com poderes mágicos e uma presença imponente na natureza. A Boiúna pode mudar o curso dos rios, criar animais e até mesmo controlar os elementos da natureza. Em algumas versões, ela é vista como uma entidade espiritual que ajuda a moldar o mundo. A Boiúna é temida por sua capacidade de afundar embarcações e devorar pescadores, arrastando-os para as profundezas dos rios. Um aspecto fascinante da lenda é a história dos filhos da Boiúna. Ela teria engravidado uma índia, dando à luz duas crianças: Honorato e Maria Caninana. Ambos possuíam o poder especial de se transformarem em cobra ou ser humano. Enquanto Maria Caninana era malvada e causava naufrágios, Honorato tinha um bom coração e lutou contra as crueldades de sua irmã. A lenda conta que para quebrar o encanto e viver como um ser humano, Honorato precisou ser ferido na cabeça por uma lâmina virgem, o que foi feito por um soldado valente. A Boiúna, também chamada de senhora-das-águas, é uma figura central nas histórias contadas às margens do rio Amazonas e seus afluentes, exercendo uma influência significativa sobre as populações locais. Ela é uma representação poderosa das forças da natureza e da conexão profunda entre os povos indígenas e o ambiente em que vivem. Essa lenda é um exemplo da rica tapeçaria de mitos e histórias que compõem o folclore brasileiro, refletindo a diversidade cultural e a importância da natureza na vida das comunidades indígenas da Amazônia.



Boto

O boto-cor-de-rosa é um animal inteligente e semelhante ao golfinho que vive nas águas amazônicas, tem a capacidade de se transformar em um jovem belo e elegante. Nas noites de lua cheia ou durante as festas juninas, o boto sai das águas e se transforma em um homem sedutor, vestido de branco e com um chapéu para esconder o orifício no topo da cabeça, por onde respira, e seu nariz pontudo. Ele então aparece nas festividades, dança e conquista a moça mais bonita da festa, levando-a para o fundo do rio, onde a engravida e depois a abandona. Na manhã seguinte, ele retorna à sua forma original de boto. O Boto é usado para explicar gravidezes fora do casamento, dizendo-se que “a criança é filho do boto” quando é filho de pai desconhecido. Na cultura popular amazônica, acredita-se que comer a carne do boto pode levar à loucura e ao encantamento. O Boto é um reflexo da proximidade do povo com as águas da Amazônia e ilustra como as crenças e vivências se entrelaçam com o ambiente natural. O Boto também é celebrado em rituais e danças folclóricas, como na Festa do Sairé, em Alter do Chão, Pará.



Bradador

O Bradador é especialmente difundido na região centro-sul do país. O Bradador é descrito como uma alma penada que vive nos campos e que, por não ter pago todos os seus pecados antes de morrer, foi devolvido pela terra. É muitas vezes associada a uma múmia ou a um espírito que habita um corpo seco, sai vagando pelos matos todas as sextas-feiras, após a meia-noite. Testemunhas relatam ouvir berros e lamentos aterrorizantes, seguidos de fortes brados, que dão origem ao nome "Bradador". Para que a terra o aceite de volta, ele precisa encontrar por sete vezes uma moça de nome Maria, e somente assim ele poderá descansar em paz. A história do Bradador remete às histórias contadas por viajantes solitários e cansados pelo sertão do Brasil. Com fome, frio e fadiga, esses passantes relatavam encontros com criaturas fantásticas, desde a Mula sem Cabeça até os berros do Bradador. Em Santa Catarina, existe um morro chamado Bradador, na cidade de Garuva, que leva o nome dessa lcriatura. O Bradador é um dos contos mais terroríficos da cultura brasileira e serve como um exemplo fascinante de como o folclore pode ser usado para transmitir mensagens e ensinamentos cultura.



Bruxa de Curitiba

Durante o século 19, um grande navio chegou em Paranaguá, trazendo inúmeros imigrantes que foram para Curitiba trabalhar nas lavouras, formando o bairro de Santa Felicidade. Entre esses imigrantes, estava uma jovem chamada Constantina e sua mãe, Dona Lola. Dona Lola estava sempre lembrando sua filha de sua descendência “strega”, ou seja, uma linhagem muito antiga de bruxas italianas. Ela dizia para Constantina: "Você precisa se preparar para a feitiçaria! Afinal, você é uma strega, uma bruxa de descendência italiana. Nunca se esqueça: ninguém se torna uma strega, pois é um dom de nascença e este é o seu destino. O castigo de uma strega que nega o dom é ser moça durante o dia e idosa durante a noite". Constantina, no entanto, odiava a feitiçaria e acreditava que ser bruxa era invocar o mal. Apesar disso, ela percebia que tinha dons especiais, como se comunicar com os mortos, ter premonições e um grande instinto para curar pessoas1. Sua mãe, contudo, não desistia e levava Constantina para aprender rituais de feitiçaria e bruxaria. Em uma dessas ocasiões, Dona Lola levou sua filha até um cemitério com o objetivo de arrancar defuntos de seus túmulos, o que assustou tanto Constantina que ela fugiu para uma floresta em Campo Largo, onde encontrou uma casa abandonada e ervas curativas. Constantina usou essas ervas para socorrer uma idosa com o braço quebrado, e logo se tornou famosa na região, com muitas pessoas procurando sua ajuda. Curiosamente, as pessoas que visitavam sua casa à noite sempre encontravam uma senhora idosa, enquanto durante o dia, apenas a jovem Constantina estava presente. Um dia, um menino chamado Zé foi buscar ajuda de Constantina para sua mãe doente, mas ao chegar em sua casa ao entardecer, ele viu a jovem se transformar em uma idosa. O pequeno Zé correu para a vila e contou a todos, espalhando o terror pela região. A comunidade ficou aterrorizada com a ideia de que uma bruxa vivia entre eles Constantina, a jovem acusada de ser a bruxa, nunca mais foi vista novamente.



Bruxas da Praia de Itaguaçu

Um grupo de bruxas, cansadas da rotina diária, decidiu organizar uma festa espetacular na praia de Itaguaçu, que é famosa por seus belos finais de tarde. Elas planejaram começar a festa ao pôr do sol e continuar pela noite adentro, convidando todos os seus amigos para uma celebração sem precedentes. A única regra era que o diabo não poderia saber da festa, pois ele era conhecido por ser autoritário e por ter maus costumes. No entanto, o diabo descobriu o plano das bruxas e, furioso por não ter sido convidado, apareceu na festa cuspindo fogo e lançando maldições. Ele transformou todas as bruxas em pedra, condenando-as a queimar sob o sol eternamente. Essas pedras, que até hoje podem ser vistas na praia de Itaguaçu, são ditas ser as bruxas petrificadas, e o local é conhecido como o “salão de festas das bruxas de Itaguaçu”.