"Lendas com a letra C"

Cabeça de Cuia

Crispim, um jovem que vivia nas margens do rio Parnaíba em uma família muito pobre. Certo dia, Crispim chegou para o almoço e sua mãe lhe serviu uma sopa rala, com ossos, pois carne era frequentemente escassa em sua casa. Revoltado, Crispim discutiu com sua mãe e, no calor da discussão, atirou um osso contra ela, atingindo-a na cabeça e matando-a. Antes de morrer, sua mãe amaldiçoou Crispim a vagar pelo rio com a cabeça enorme no formato de uma cuia. Com a maldição, Crispim enlouqueceu e correu para o rio Parnaíba, onde se afogou. Seu corpo nunca foi encontrado, e a lenda diz que ele só se libertará da maldição após devorar sete virgens de nome Maria. Até hoje, as pessoas mais antigas proíbem suas filhas virgens de nome Maria de lavarem roupa ou se banharem nas épocas de cheia do rio. Alguns moradores da região afirmam que o Cabeça de Cuia, além de procurar as virgens, assassina banhistas do rio e tenta virar embarcações que passam pelo rio. Outros também asseguram que Crispim, ou o Cabeça de Cuia, procura as mulheres por achar que elas são sua mãe, que veio ao rio Parnaíba para lhe perdoar. Mas, ao se aproximar e se deparar com outra mulher, ele se irrita novamente e acaba por matar as mulheres.



Caboclo D'Agua

Associado ao rio São Francisco, o Caboclo D’Água, também conhecido como Nego D’Água, é um ser sobrenatural de aparência monstruosa que atormenta pescadores e barqueiros que cruzam seu caminho. Ele é uma criatura musculosa, troncuda, com pele cor de bronze, baixa estatura e com apenas um olho localizado no meio da testa. Ágil e poderoso, o Caboclo D’Água é capaz de estar em vários lugares ao mesmo tempo e pode se manifestar com a aparência de algum animal. Não existem relatos claros sobre a origem do Caboclo D’Água, mas ele é conhecido por assombrar os pescadores há muitos anos. Quando irritado, seu ruído é escutado a grandes distâncias, causando desespero nos habitantes da região. Ele ataca os pescadores, agarrando o fundo das canoas e barcos, movimentando-os até que eles possam virar ou encalhar. Além de assombrar os pescadores, o Caboclo D’Água também faz de tudo para afugentar os peixes, prejudicando ainda mais a vida da população local. Contudo, dizem que é possível acalmar o monstro oferecendo um pedaço de fumo, o que o deixa contente e o faz desaparecer por um tempo. Outra estratégia utilizada pelos pescadores para se proteger é pintar no casco da embarcação uma estrela branca ou esculpir na proa imagens com feições monstruosas, as chamadas carrancas. O Caboclo D’Água vive em uma gruta profunda rodeada de ouro, e muitas pessoas já perderam a vida na tentativa de descobrir a morada da entidade e pegar todo o seu ouro. Os mais supersticiosos acreditam que só de pensar nisso já é motivo suficiente para o ser curioso atacá-los nas noites.



Cabra Cabriola

Cabra Cabriola é uma história assustadora, com origens na mitologia infantil portuguesa. Ela foi trazida para o Brasil pelos portugueses e se popularizou especialmente nos estados de Piauí e Pernambuco durante os séculos XIX e XX1. A Cabra Cabriola é um ser imaginário e monstruoso, conhecido por ser um “papa-meninos”. Ela é a personificação do medo, frequentemente descrita como um animal de aspecto terrível que devora crianças travessas. A Cabra Cabriola invadia as casas para pegar e comer as crianças que não obedeciam aos pais. No Brasil, quando uma criança começa a chorar de repente, é porque a Cabra Cabriola está fazendo outra vítima. Nesse momento, as pessoas começavam a rezar para proteger os pequenos. A lenda também era acompanhada por um verso ameaçador que a Cabra Cabriola cantava: Eu sou a Cabra Cabriola Que como meninos aos pares Também comerei a vós Uns carochinhos de nada.



Caipora

Conhecida por ser a protetora dos animais e guardiã das florestas, a Caipora é uma figura mítica que pode ser representada tanto por um homem quanto por uma mulher, dependendo da região do Brasil. De origem na mitologia indígena Tupi-Guarani, a palavra “caipora” vem do tupi e significa “habitante do mato”. A Caipora é uma indígena anã, com cabelos vermelhos e orelhas pontiagudas, e em algumas versões, seu corpo é todo vermelho ou verde. Ela vive nua nas florestas e tem o poder de dominar e ressuscitar os animais, com o principal objetivo de defender o ecossistema. A Caipora faz armadilhas e confunde os caçadores com diversos ruídos, oferecendo pistas falsas até que eles se percam na floresta. Ela também tem o poder de controlar os animais, espantando-os quando sente que algo de mal pode acontecer. Em outras versões, a Caipora é descrita como um homem baixo, de pele escura e muito peludo, que surge montado num porco-do-mato e sempre tem uma vara consigo. Curiosamente, a Caipora fuma, e para agradá-la e poder caçar tranquilamente nas florestas, alguns caçadores levam fumo de corda para ela. Eles devem deixar o fumo próximo ao tronco de uma árvore. Embora ela permita que eles cacem naquele dia, fica proibido abater fêmeas que estão prenhas



Canhambora

Canhambora é um ser temido e misterioso. O Canhambora é retratado como um homem grande, de pele escura e aparência assustadora, que rouba crianças e é considerado uma assombração dos negros mortos a pancadas. Ele também pode ser descrito como uma criatura metade homem e metade cavalo, que agride caçadores e tem cabelos compridos até os pés. Diz-se que ele tem o poder de ressuscitar animais mortos e matar homens. A origem do nome “Canhambora” vem do tupi “ca-nhembara”, que significa fugido ou fugitivo. A lenda pode ter se confundido com “quilombola”, dando origem a várias variantes do nome. O Canhambora também foi associado a um terrível ladrão de gado, amaldiçoado pelos criadores prejudicados.



Canoa Fantasma

A Canoa Fantasma é uma história misteriosa e fascinante associada ao rio Tietê, no estado de São Paulo. A Canoa Fantasma é uma embarcação sobrenatural que carrega as almas dos bandeirantes que morreram afogados. Diz-se que essas almas aparecem nas margens do rio Tietê ao amanhecer, embarcam na canoa e descem o rio. O objetivo delas é duplo: procurar notícias dos parentes que deixaram para trás e buscar tesouros perdidos. A canoa, então, desliza silenciosamente pelas águas, muitas vezes vista por pescadores e moradores locais que se assustam com a visão fantasmagórica. A Canoa Fantasma também está ligada a outras histórias sobrenaturais da região, como o cavalo das almas, que anda pelas estradas em busca de pessoas recém-falecidas esperando nos moirões das porteiras. Quando as encontra, elas montam em sua garupa e partem juntos para um local desconhecido.



Cãoera

O Cãoera é uma história intrigante especialmente entre os indígenas Mura. O Cãoera, também conhecido como Cão-Morcego, é descrito como um morcego gigante e cego, muitas vezes maior que um abutre. Ele é temido por entrar nas casas à noite para sugar o sangue das pessoas, utilizando um encanto que faz a vítima dormir profundamente enquanto é devorada. O Cãoera tem garras afiadas que usa para atacar suas vítimas, e possui a habilidade de mudar de forma, podendo se transformar em outros animais, como o Antaera e o Gatoera. Quando mata vítimas mágicas ou outros animais, diz-se que ele adquire as habilidades dessas criaturas, como o dom de cura ou visões, embora continue cego. Quando um Cãoera é assassinado, seu terceiro filhote se torna seu sucessor e adquire resistência ao que matou seu pai ou mãe, ganhando novas habilidades. As principais fraquezas do Cãoera são a luz solar e a luz elétrica.



Capelobo

O Capelobo, um ser fascinante e assustador, muito comum na região Norte do Brasil, especialmente nos estados do Maranhão, Amazonas e Pará. Acredita-se que tenha oorigens entre os povos indígenas da região. O Capelobo é descrito como um ser monstruoso, uma mistura de humano e animal. Ele possui a cabeça e o focinho de um tamanduá-bandeira (ou de cachorro ou de anta, dependendo da versão), um corpo humano forte e patas redondas com muitos pelos. É muito rápido e vive correndo pelas matas próximas aos rios e em regiões de várzeas. O Capelobo tem uma vida ativa durante a noite e madrugada, quando fica perambulando e rondando barracões, casas e acampamentos no meio da mata. Emitindo sons assustadores, este monstro se alimenta de cães e gatos, principalmente os recém-nascidos. Ataca também os caçadores, matando-os e bebendo o sangue das vítimas. O Capelobo é um predador voraz que se alimenta principalmente de cérebros humanos, que ele extrai com seu focinho longo. Para matar essa criatura monstruosa só existe uma forma: um tiro certeiro em seu umbigo. O Capelobo possui semelhanças com Lobisomem, e em algumas aldeias indígenas da região do rio Xingu, acredita-se que alguns indígenas possuem a capacidade de se transformarem em Capelobo.



Caramuru

Caramuru, Diogo Álvares Correia, um náufrago português que chegou ao Brasil no início do século XVI, por volta de 1510, após seu navio naufragar próximo à região do Rio Vermelho, na Baía de Todos os Santos, Diogo Álvares foi o único sobrevivente e acabou sendo recebido pelos Tupinambás, uma aldeia local. Os indígenas deram-lhe o apelido de Caramuru, que significa “moreia” ou “filho do trovão”, dependendo da interpretação. Isso se deveu ao fato de que ele teria disparado uma arma de fogo, causando grande espanto entre os Tupinambás, que nunca haviam visto tal feito. Caramuru viveu entre os indígenas, aprendendo seus costumes e estabelecendo uma posição de destaque. Ele se casou com Paraguaçu, uma indígena da aldeia, que mais tarde seria batizada na França sob o nome de Catarina Álvares Paraguaçu. Juntos, eles tiveram filhas que se casaram com nobres portugueses, dando origem a algumas das famílias mais tradicionais da Bahia. A figura de Caramuru é vista como um interlocutor entre os indígenas brasileiros e os colonizadores portugueses, facilitando o contato e a relação entre as duas culturas. A história de Caramuru é celebrada na literatura, como no “Poema Épico do Descobrimento da Bahia”, e ele é considerado o fundador do município baiano de Cachoeira. A lenda de Caramuru é um exemplo da rica tradição oral do Brasil e da maneira como as histórias folclóricas são usadas para transmitir mensagens e ensinamentos culturais, além de refletir a relação profunda entre as pessoas e a história do país.



Casa das 365 Janelas

No século XIX, em Goiás, o comendador Joaquim Alves de Oliveira, uma das figuras mais proeminentes e ricas da região, mandou construir um casarão monumental com 365 janelas, uma para cada dia do ano. O casarão, também conhecido como o Palacete do Comendador, era uma construção imensa em forma de “H”, com cerca de 30.000 metros quadrados de área construída. Tinha dois pavimentos com paredes de adobe, janelas de madeira, baldrames, vigas e esteios de aroeira sobre alicerces de pedra, seguindo o estilo arquitetônico colonial da época. No pavimento inferior, havia amplos salões de recepção, salões para reuniões, escritórios, cozinhas e áreas de serviços. No pavimento superior, um extenso salão para baile, cômodos para hóspedes e a residência particular do Comendador. Após a morte do Comendador, que não deixou herdeiros, a população demoliu a casa em busca das famosas garrafas de ouro ou algum tesouro escondido. As peças de madeira, esteios e janelas foram utilizadas para a construção de várias casas nas adjacências, e é possível ouvir os passos do Comendador pelas ruas buscando partes de sua antiga casa.



Cavalo das Almas

Cavalo das Almas é um animal milagroso que percorre as estradas do estado de São Paulo e adjacências à procura dos mortos recentes. As almas dos falecidos esperam por ele nos moirões das porteiras, e quando o encontram, montam em sua garupa e partem juntos para um local desconhecido. O Cavalo das Almas é visto como um guia das almas, levando-as para o céu ou inferno, dependendo das crenças locais. É um cavalo translúcido ou invisível, que aparece para alertar sobre a morte de entes queridos ou para levar as almas para o pós-vida. Antigamente, acreditava-se que ele trazia mau agouro, mas geralmente ele só aparece para alertar as pessoas. Durante a Quaresma, período do ano litúrgico que antecede a Páscoa cristã, o Cavalo das Almas passa galopando perto da janela do quarto onde dorme o descrente. Embora muitos afirmem ter ouvido o fenômeno, ninguém jamais viu o misterioso cavalo, apenas rastros deixados no solo. As pessoas acreditam que o cavalo é invisível, sendo um recado de Deus para respeitar os sofrimentos de seu filho Jesus Cristo.



Cavalo Invisível

O Cavalo Invisível é criatura mística e popular na região Sudeste. Durante a Quaresma, um cavalo invisível passa galopando perto da janela do quarto de indivíduos descrentes como um recado de Deus. A mensagem é um lembrete para que o sofrimento de Jesus Cristo seja respeitado da maneira correta. Apesar do barulho do galope ser ouvido e rastros serem deixados por onde ele passa, o cavalo jamais foi visto. Os mais velhos dizem que ninguém consegue ver o Cavalo Invisível, mas conseguem sentir sua presença como um aviso divino para o povo.



Cavalo D'Agua

O Cavalo D’Água é uma criatura mitológica que habita uma caverna de ouro1 nas águas profundas do o rio São Francisco. Os nativos descrevem o Cavalo D’Água como um ser gigante e musculoso. Ele é conhecido por virar embarcações, causar tempestades ou criar correntezas fortes para punir aqueles que poluem os rios ou pescam de maneira irresponsável. Por outro lado, ele pode ajudar e guiar aqueles que respeitam e protegem o ambiente natural. Para afastar o Cavalo D’Água, os pescadores adotam algumas estratégias, como construir na proa de seus barcos figuras monstruosas chamadas “carrancas” ou pintar uma estrela no fundo do barco, acreditando que isso assusta os seres sobrenaturais. Algumas pessoas tentaram chegar à habitação da caverna para conquistar o ouro, mas nenhum deles sobreviveu.



Chandoré

Da mitologia tupi-guarani, Chandoré era um ser poderoso e divino, enviado com o propósito de punir aqueles que desafiam os deuses e que foi enviado para matar o indígena malvado Pirarucu. Pirarucu havia desafiado Tupã, a divindade suprema do panteão tupi-guarani1. No entanto, Chandoré fracassou em sua missão, pois Pirarucu, ao perceber que seria derrotado, jogou-se no rio. Como castigo por seu desafio, o indígena foi transformado no peixe que hoje leva o seu nome, o pirarucu, que é um dos maiores peixes de água doce do mundo.



Chibamba

O Chibamba é uma história com origens no sul de Minas Gerais, que faz parte do ciclo de assombrações criadas para assustar crianças. O Chibamba é um fantasma que amedronta as crianças que choram, as teimosas e as malcriadas, especialmente aquelas que resistem em ir para a cama cedo. Este ser é descrito como uma espécie de Bicho Papão mineiro, cujo único papel conhecido é adormecer as crianças pelo medo. Ele anda envolto em longa esteira de folhas de bananeira, ronca como se fosse um porco, e dança de forma compassada, dando pequenos passos enquanto caminha. Às vezes, em meio à sua peculiar caminhada, dá uma paradinha seguida de um giro. O nome “Chibamba” é de origem africana, especificamente Bantu, e teria como significado uma espécie de canto ou dança africana, como o Lundu. A presença do Chibamba nnas histórias brasileiras é um reflexo da influência africana na cultura do país, especialmente nas tradições festivas e folclóricas onde se dança vestindo elaboradas roupas feitas de folhas, ramos e galhinhos de plantas locais.



Chupacabra

Originário de Porto Rico na década de 1990, o nome “Chupacabra” significa literalmente “sugador de cabras” em espanhol, e a criatura é assim chamada devido aos relatos de animais encontrados mortos com marcas de dentes no pescoço e o corpo drenado de sangue. A descrição mais comum do Chupacabra é a de uma criatura bípede, com cerca de um metro e meio de altura, olhos grandes, espinhos nas costas e longas garras. Há relatos que o descrevem como um ser semelhante a um alienígena, enquanto outros o comparam a um animal parecido com um cachorro, mas sem pelos. Relatos sobre aparições de Chupacabrase espalharam rapidamente por toda a América Latina e o sul dos Estados Unidos, com relatos de aparições e ataques a animais rurais. No Brasil, a lenda ganhou notoriedade na década de 1990, com uma série de reportagens televisivas que levaram a uma onda de supostas aparições da criatura por todo o país. Apesar de sua fama, a existência do Chupacabra nunca foi comprovada cientificamente, e muitos acreditam que os relatos podem ser explicados por ataques de animais selvagens ou doenças que causam a perda de sangue em animais de criação. OChupacabra continua a fascinar e aterrorizar pessoas ao redor do mundo, sendo um exemplo vívido de como mitos modernos podem se espalhar e se enraizar na cultura popular.



Cidade de Jericoacara

O originária do Ceará, Cidade Encantada de Jericoacoara é uma das mais mágicas e misteriosas histórias contadas pelos brasileiros. Escondida ao norte do farol de Jericoacoara, existe uma cidade encantada, repleta de palácios e tesouros inimagináveis. A entrada para essa cidade mística fica em uma caverna que só se torna visível durante a maré baixa, protegida por um portal de ferro que impede a entrada de intrusos. Aqueles que conseguem chegar ao portão relatam ouvir sons estranhos, como cantos de galos, trinados de pássaros, balidos de carneiros e gemidos. No coração dessa cidade vive uma linda princesa, cujo corpo foi transformado em uma serpente com escamas de ouro por um feiticeiro malvado. Apenas seu rosto e seus pés permaneceram humanos. Para quebrar o feitiço, é necessário desenhar uma cruz no corpo da serpente com sangue humano. Quando isso acontecer, a princesa voltará à sua forma original, e os palácios e torres do castelo surgirão para que todos possam ver. Até hoje, a princesa espera o herói que irá salvá-la e revelar a cidade encantada ao mundo.



Cigana da Estrada

A Cigana da Estrada é uma história rica em simbolismo e misticismo, é uma entidade conhecida por sua beleza marcante, liberdade de espírito, ousadia e desafio aos padrões, tornando-a poderosa nas esferas da sedução, do amor, das finanças, da purificação de trajetos e da limpeza espiritual. Ela é equiparada a uma versão feminina do Exu, desempenhando o papel de intermediária entre o mundo humano e o divino, manifestando-se no plano terreno através da incorporação. A Cigana da Estrada trabalha pelo amor genuíno, irradiando um brilho especial sobre aqueles que buscam sua ajuda. Suas características são notáveis e intrigantes. Ela possui uma deslumbrante beleza, capaz de atrair olhares com sua sensualidade magnética. Seu sorriso encantador, olhar cativante e personalidade única completam sua aura irresistível. Além disso, a Cigana da Estrada possui uma conexão intrínseca com a cultura cigana, expressa em seus trajes tradicionais, como vestidos vermelhos com saias amplas, e em sua afinidade pelas cores preto e vermelho. Ela é particularmente eficaz na resolução de questões comerciais e na remoção de obstáculos, desempenhando um papel importante na abertura e desobstrução de caminhos. Sua energia é valiosa no processo de descarrego espiritual. Para estabelecer uma conexão com essa poderosa entidade, costuma-se apresentar oferendas e fazer pedidos nas áreas das estradas de terra, de preferência às segundas-feiras. A Cigana da Estrada atenderá com prontidão e eficácia se os pedidos que forem formulados com fé e respeito, prontificando-se a trazer sua influência positiva e orientação aos que a buscam.



Cobra Grande

Especialmente popular nas regiões Norte e Nordeste do país, a Cobra Grande,parente próxima da Boiúna e Cobra Honorato, é uma serpente gigantesca que habita as profundezas dos rios e lagos da Amazônia. Com olhos luminosos e um tamanho assustador, ela é capaz de aterrorizar aqueles que a encontram. Existem várias versões dessa lenda, mas uma das mais comuns conta a história de uma indigena de uma aldeia amazônica que ficou grávida da cobra Boiúna. Ela deu à luz dois gêmeos que nasceram com aparência de cobras: o menino foi chamado Honorato e a menina, Maria Caninana. A mãe, assustada com a aparência de seus filhos, lançou-os no rio. Enquanto Honorato era bondoso e visitava sua mãe, Maria guardava rancor e nunca a visitou, preferindo assustar a população e causar naufrágios. Cansado das maldades de sua irmã, Honorato decidiu matá-la para acabar com o sofrimento das pessoas. Em noites de lua cheia, Honorato podia assumir forma humana e caminhar pela terra. Para quebrar o encanto e transformá-lo permanentemente em humano, era necessário ferir a cobra na cabeça e colocar leite em sua boca. Contudo, ninguém tinha coragem de enfrentá-lo em sua forma de cobra, até que um soldado corajoso conseguiu libertar Honorato da maldição.



Cobra Norato

Cobra Norato é um dos mitos mais ricos do folclore amazônico, que mistura elementos de outras lendas regionais como a do boto e a da Cobra Grande. Uma indígena tapuia da região amazônica engravidou de um boto e deu à luz gêmeos, que eram cobras. O menino foi chamado de Norato e a menina de Maria Caninana1. Norato era uma cobra de bom coração, gentil e forte, enquanto sua irmã Maria Caninana era malvada e violenta, gostando de assustar as pessoas e causar naufrágios. Norato, por outro lado, ajudava as pessoas e evitava que os barcos afundassem. Norato precisava passar lama pelo corpo para manter sua forma humana durante a noite, simbolizando sua ligação com a terra e a natureza. À noite, ele se transformava em um belo homem e ia às festas para dançar e namorar. Ao amanhecer, voltava a ser cobra e retornava para a vida nos rios. Para quebrar o encanto de Norato e transformá-lo permanentemente em humano, era necessário um pouco de leite de mulher e um pedaço de ferro virgem. Um soldado, amigo de Norato, decidiu ajudá-lo. Jogou o leite na cabeça da cobra e a feriu com um machado de ferro virgem. Norato então emergiu como um belo moço e queimou o couro da cobra, vivendo até ficar velho em uma cidade do interior do Pará.



Comadre Fulozinha

Comadre Fulozinha é conhecida como uma feroz guardiã das florestas, especialmente na Zona da Mata de Pernambuco, mas sua presença também é sentida em regiões próximas no nordeste brasileiro. Comadre Fulozinha é frequentemente descrita como uma criança ou uma mulher com longos cabelos pretos, que usa seus poderes para proteger a natureza. Ela é zombeteira e pode ser tanto malvada quanto prestimosa, dependendo de como é tratada. Entre suas travessuras, ela é conhecida por trançar as crinas de cavalos, abrir porteiras de fazendas e desorientar caçadores com seu assobio potente. O assobio de Comadre Fulozinha é emblemático: se estiver alto, significa que ela está longe; se estiver baixo, ela pode estar bem perto. Para aqueles que entram na floresta com intenções ruins, como machucar os animais, ela mostra sua fúria, usando cipós como chicote para ensinar uma lição. Para ganhar a simpatia da Comadre Fulozinha, diz-se que se deve deixar oferendas na entrada da mata, como um pote de mingau, mel, confeitos ou fumo. Esses presentes podem fazer com que ela desfaça os nós que faz nos animais e ajude o caçador a encontrar sua presa ou a sair da mata.



Corpo Seco

O Corpo Seco é uma das histórias mais sombrias e moralizantes Brasil, conhecida em várias regiões do país, como Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina, São Paulo e no nordeste. O Corpo Seco era o espírito de um homem que cometeu pecados imperdoáveis durante a vida. Tão terríveis eram seus atos que, após sua morte, nem Deus, nem o diabo e nem a própria terra quiseram aceitar seu espírito ou corpo. A terra chegou a rejeitar seu corpo, não permitindo que ele fosse enterrado. Com isso, o Corpo Seco foi condenado a vagar eternamente, assombrando as estradas e florestas. Ele se gruda nos troncos das árvores, que secam quase imediatamente ao seu toque. À noite, ele assombra as pessoas que passam pelas estradas, agarrando-se a elas e sugando-lhes o sangue até que outra pessoa apareça para salvar a vítima. É um aviso para aqueles que desrespeitam os pais ou não cumprem suas promessas, ensinando sobre as consequências de atos ruins e a importância do respeito e da palavra dada. O Corpo Seco é associado a um homem que não cumpriu uma promessa feita a Nossa Senhora Aparecida, e hoje, ele ainda pede carona para Aparecida do Norte, desaparecendo misteriosamente antes de chegar ao destino.



Cramulhão

Cramulhão, também conhecido como Diabinho da Garrafa ou Famaliá, é uma história carregada de elementos sobrenaturais e moralizantes. O Cramulhão é uma criatura que nasce de um pacto feito com o diabo. A pessoa que deseja riqueza ou poder faz um acordo com o diabo, prometendo servir-lhe em vida e entregar-lhe a alma após a morte. Para selar o pacto, é necessário obter um ovo especial, não um ovo comum de galinha, mas um ovo fecundado pelo próprio diabo. Em algumas regiões do Brasil, acredita-se que o Cramulhão pode nascer de uma galinha fecundada pelo diabo, enquanto em outras, acredita-se que nasce de um ovo colocado por um galo. Esse ovo, do tamanho de um ovo de codorna, deve ser procurado durante o período da Quaresma. Na primeira sexta-feira após conseguir o ovo, a pessoa deve ir até uma encruzilhada à meia-noite, com o ovo debaixo do braço esquerdo. Após o horário, retorna para casa e se deita na cama. No fim de aproximadamente 40 dias, o ovo é chocado e nasce o diabinho.



Cuca

A Cuca é uma bruxa velha com aparência assustadora que possui cabeça de jacaré e unhas imensas. Dona de uma voz assustadora, a Cuca rapta as crianças desobedientes. A bruxa Cuca dorme uma vez a cada sete anos, e por isso, os pais tentam convencer as crianças a dormirem nas horas corretas, pois, do contrário, serão levadas pela Cuca. A origem da Cuca é originária do folclore galego-português, baseada na criatura “Coca”, que significa “crânio, cabeça”. A “Coca” é um fantasma ou um dragão comedor de crianças desobedientes que fica à espreita nos telhados das casas, e as rapta depois de fazerem alguma malcriação. A Cuca inspirou músicas e apareceu nas artes, como na obra da artista brasileira modernista Tarsila do Amaral, que produziu em 1924 uma pintura baseada nessa personagem, atualmente exposta no Museu de Grenoble, na França.



Cumacanga

Cumacanga, também conhecida como Curacanga, é uma figura misteriosa e assustadora conhecida nos estados do Pará e Maranhão. A Cumacanga é sempre a concubina de um padre ou a sétima filha de um amor considerado sacrílego. O mais intrigante é que, durante a noite de sexta-feira, o corpo da Cumacanga fica em casa, mas sua cabeça se separa e sai voando pelos ares como um globo de fogo. Essa entidade é muitas vezes associada a punições, encantos e até mesmo a indicações de ouro ou outros tesouros escondidos. A cabeça luminosa da Cumacanga é um elemento comum aos mitos do fogo e tem paralelos com outras histórias indígenas, como as dos caxinauás e panos do território do Acre, que explicam a origem da Lua como uma cabeça que subiu aos céus.



Curupira

O Curupira é uma das mais antigas e conhecidas histórias populares, com origens nos povos indígenas e muito famosa no Norte do Brasil, especialmente no Amazonas e Pará. O Curupira é retratado como um ser mítico protetor das florestas, que se volta contra todos aqueles que as destruíam, como caçadores e madeireiros. O Curupira é frequentemente descrito como um anão de cabelos vermelhos e pés ao contrário, com os calcanhares para frente. Essa característica peculiar faz com que suas pegadas enganem os perseguidores, levando-os a acreditar que ele foi na direção oposta. Além disso, ele possui grande força física e é conhecido por sua habilidade de fazer as pessoas se perderem na floresta e esquecerem o caminho de saída. Para evitar serem vítimas do Curupira, os indígenas ofereciam presentes como fumo e cachaça quando entravam na floresta. Uma forma de escapar dele, caso ele te encontre no meio da floresta, é realizar um nó em um pedaço de cipó. O Curupira também é conhecido por seu assobio contínuo, que serve para atormentar os caçadores. Pelo menos desde 1560 foram realizados registros da existência de Curupiras em carta do Padre Jesuíta José de Anchieta. A carta do Padre José de Anchieta que menciona a presença de curupiras no Brasil foi escrita em 1º de junho de 1560 e endereçada ao Geral da Companhia de Jesus, P. Diogo Laínes, em Roma. Nessa carta, Anchieta relata diversos aspectos da vida e dos costumes dos indígenas brasileiros, incluindo suas crenças em seres míticos como o curupira, que era visto como um protetor das florestas e dos animais. Essas cartas são documentos valiosos que oferecem uma visão da época sobre a interação entre os jesuítas e as culturas indígenas no período colonial do Brasil.