"Lendas com a letra N"

Nego D'Água

O Nego d’Água é uma história bastante comum entre as pessoas ribeirinhas, principalmente na Região Centro-Oeste do Brasil. O Nego d’Água, também conhecido como Negro d’Água, é uma criatura que vive em diversos rios e é conhecido por manifestar-se com suas gargalhadas estridentes. Ele é descrito como preto, careca, com mãos e pés de pato, e tem o hábito de derrubar a canoa dos pescadores se eles se recusarem a dar-lhe um peixe. Em alguns locais do Brasil, ainda existem pescadores que, ao sair para pescar, levam uma garrafa de cachaça e a jogam para dentro do rio, para que não tenham sua embarcação virada pelo Nego d’Água. A criatura é descrita como uma fusão de homem negro alto e forte com um anfíbio, apresentando nadadeiras como de um anfíbio e corpo coberto de escamas mistas com pele. A história não tem uma origem certa, mas é muito difundida entre os pescadores, dos quais muitos dizem já ter o visto. O Nego d’Água é considerado um protetor das águas por alguns, mas para os pescadores ele é visto como uma ameaça, pois vira canoas, tira os peixes dos anzóis, corta as linhas, rouba redes e leva crianças que ficam longe da margem dos rios. Portanto, quando os pescadores saem para pescar, levam consigo cachaça, para ser oferecida ao Nego d’Água, para que ele não vire os barcos.



Negrinho do Pastoreio

O Negrinho do Pastoreio é uma das mais emblemáticas histótias brasileiras, particularmente na região Sul do país. Ela conta a história de um jovem escravo que sofreu muito nas mãos de um fazendeiro cruel. Reza a lenda que o Negrinho era responsável por cuidar dos cavalos do fazendeiro. Um dia, após adormecer de exaustão, um dos cavalos fugiu. O fazendeiro, furioso, castigou o menino com muitas chibatadas e o lançou em um formigueiro, deixando-o para morrer. No entanto, no dia seguinte, o fazendeiro encontrou o Negrinho sem nenhum ferimento, montado no cavalo perdido, e ao seu lado estava a Virgem Maria, que o protegeu e curou suas feridas. Arrependido, o fazendeiro pediu perdão, mas o Negrinho saiu galopando feliz e livre no cavalo baio. Em outra versão da história, é o filho do fazendeiro, tão maldoso quanto o pai, que deixa o cavalo fugir para prejudicar o Negrinho. Após ser castigado e abandonado no formigueiro, o Negrinho é milagrosamente salvo pela Virgem Maria. Hoje, na região Sul do Brasil, acredita-se que se algum objeto está perdido, o Negrinho do Pastoreio pode ajudar a encontrá-lo. Basta acender uma vela perto de um formigueiro e pedir com fé que o objeto perdido reaparecerá.



Noiva Fantasma

A Noiva Fantasma é uma história arrepiante que aparece em várias culturas ao redor do mundo, incluindo o Brasil. Uma das histórias mais conhecidas no Brasil é a da Noiva do Jardim, em Dois Córregos-SP. Uma tragédia envolvendo uma noiva que foi abandonada no altar pelo noivo gerou a lenda. A moça morreu na mesma noite do ocorrido, vestida de branco, e foi enterrada com o vestido que havia feito. Após um tempo, surgiram boatos de que a noiva aparecia à meia-noite perto da capela onde deveria ter se casado. Outra história famosa é a da Noiva da Lagoa dos Barros, no Rio Grande do Sul. Em 1940, uma jovem chamada Maria Luiza foi encontrada morta na lagoa, e o principal suspeito era seu namorado, motivado por ciúmes. Desde então, muitos afirmam ter visto uma mulher vestida de branco pela beira da estrada ou dançando sob as águas da lagoa. A população local leva a história muito a sério, e é comum levar oferendas à noiva fantasma para demonstrar respeito.



Num se Pode

A história “Num-se-pode” é fascinante do Piauí, mais especificamente da cidade de Teresina. A história fala de um fantasma feminino que aparecia frequentemente aos notívagos que andavam pelas ruas, especialmente na praça Conselheiro Saraiva (antiga das Dores). A “Num-se-pode” começou a aparecer com o surgimento dos lampiões de gás que iluminavam as ruas. Ela se materializava para os soldados de ronda que patrulhavam a cidade e para os boêmios. A história descreve a figura como uma mulher esguia, com rosto comprido, olheiras fundas e um ar de tristeza. A personagem da história teresinense “Num-se-pode” inspirou diversos artistas e foi estudada como manifestação da cultura popular. Conta a história de uma bela mulher que, à meia-noite, aparecia na Praça Saraiva ostentando sua beleza debaixo de um dos lampiões. Os homens, movidos pela surpresa daquela aparição, se aproximavam para conversar ou, quem sabe, aventurar mais uma conquista com aquela donzela perdida. Ao chegarem perto, a linda mulher pedia-lhes um cigarro, sorrindo como quem quer pegar na mão deles. Quando recebia o cigarro, começava a crescer, esticando-se até atingir o topo do lampião de gás para acender o cigarro. Nesse processo, ela revelava sua verdadeira forma de assombração, assustando até os homens mais corajosos do sertão. A voz de donzela se transformava em uma voz rouca e grave, e de dentro dela saía a repetir “num se pode, num se pode, num se pode…”. A cada repetição, a linda mulher mostrava sua real forma de assombração, esticando o corpo para o alto, rumo à chama em cima do poste, e ali acendia o cigarro para satisfazer o prazer maligno do seu vício.